terça-feira, 24 de novembro de 2015

Análise QD: Multiversidade: Ultra Comics - NÃO LEIA ESTA RESENHA.

E finalmente a revista tão esperada, Ultra Comics. Essa revista é tida como amaldiçoada em todo o universo DC. Ela é uma singularidade, e não importa em qual Terra ela esteja ela sempre vai ser igual.

- Vimos que foi durante uma pesquisa sobre essa revista que o Monitor Nix Uotan foi chamado para defender o Multiverso em Multiversidade Um.


- Vimos que ela era uma artefato amaldiçoado no inventário do Doc. Destino em Sociedade dos Super Heróis Conquistadores do Mundo Oposto.


-Vimos que foi durante a leitura dessa revista que Alexis Luthor desenvolveu seu plano em The Just.


- Vimos que foi analisando essa edição que o Capitão Allen Adam começou a se questionar sobre sua existência e das demais vidas.


     A Ultra Comics foi uma incógnita permanente durante toda a saga Multiversidade, e agora vamos descobrir, ou melhor, confabular o porquê.
    A edição já começa a se tornar polêmica pela sua capa. Não é todo dia que vemos uma revista com uma crise existencial. Claramente a mensagem inicial seria de que devemos ler essa revista para "salvar o mundo", mas vemos devido a uma leve pichação que alguém ou alguma coisa está tentando nos alertar do contrário. Eu particularmente fiquei três dias olhando a capa antes de tomar a decisão sobre ler ou não ela, mas como sou uma pessoa muito curiosa...


    Quando paro para pensar sobre o que se trata essa revista, o que me vem na cabeça é o conceito de ignorância ser uma dádiva para alguns. Ele é perceitamente aplicável aqui. A revista começa com o personagem Ultra (da capa) aliviado por ter conseguido chegar a tempo, ele diz que veio 24h e 38 paginas do futuro e está aqui para nos impedir de ler esta revista. Se lermos essa revista podemos botar tudo a perder. É preciso ter um nível de empatia muito grande para ouvir uma ordem dessas sem a ignorar. Como você conseguiria fazê-lo? A sua curiosidade vai ser maior do que a vontade de ajudar alguém? Grant Morrison nos faz pensar sobre nossos atos a cada página, faz o personagem conversar conosco e isso promove uma autoreflexão.


    A Terra Prime para quem não sabe, é a nossa Terra. A Terra onde os super heróis não passam de ideías criativas de autores. Um lugar que não esta preparado para ter um super herói para sí. Alguns já tentaram e sempre acabou em desastre e parece que estão tentando mais uma vez.
   Agora vemos alguém usando um de nossos super heróis ficticios para abrir uma ponte entre as terras, e pra que serviria essa ponte? Será alguém tentando entrar?


    O personagem está nitidamente preocupado em conter alguma coisa. Mas por que ele deseja fazer essa contensão? Por que ele diz que isso é uma armadilha? O que é uma maquina de aniquilação? Nós já estávamos no passado do qual o Ultra diz ter vindo?
    De início vemos mais perguntas do que respostas, e mesmo quando há respostas elas ainda são um pouco confusas, afinal, quem está assinando essa saga é o Morrison. Não podiamos esperar nada menos.
    Morrison acredita que o que está na página do quadrinho de forma alguma pode ser menos real do que nós, eles apenas são reais de uma outra maneira. Eventualmente nós pessoas iremos morrer, mas já essas páginas, esses personagens sempre continuarão por aí, jovens. Então a questão da realidade se torna uma mera perspectiva, como decidir a partir disso quem é real e quem não é?

    Partindo do pressuposto de o que está na sua mente faz parte de você, esse super herói que esta sendo lhe apresentado aos poucos se torna uma parte sua também. Você homem, mulher, loiro, moreno, negro. Qualquer um que esteja o lendo dá um fragmento de vida a ele, que não conseguiria existir sem a sua ajuda. No fim é você quem está causando isso. Pare agora, ainda há tempo.


     Ultra Comics é um personagem simples, um personagem extremamente carismático. Você sente que ele possui uma consciência, sente vontade de ajudar ele. Todas as vezes que eu me deparei com essa página (6), depois de ler ele dizendo que sim, que esta vivo, que me ouve, eu digo o nome dele. Como se mais do que um personagem de uma revista de quadrinhos, ele pudesse mesmo ser um cara presente na minha vida. Como se eu mesma pudesse continuar histórias sobre ele e ele pudesse entrar no universo que eu quisesse. Como se ele não tivesse limites. Grant Morrisson criou um personagem que eu sinto que também pode ser meu. Eu caí direitinho.
   Ultra Comics foi um herói lançado em 2015, porém ele foi inoculado com a memória desde 1930, quando os heróis estavam nascendo. Ele passou pela fase clássica, a fase pulp, fase ficção científica, fase de perder seus entes queridos, fase de desconstrução, fase psicodélica. Tudo criado para que ele soubesse como é se sentir um super herói eterno, assim como tantos outros como Batman, Superman, Capitão América...


     Um dos traços mais fortes do Grant Morrison é que além de contar uma história que pode desencadear uma crise no Universo DC, o autor ainda acha tempo para fazer suas críticas à sociedade, incluindo dúvidas ou constatações  nas falas de seus personagens.


    Outra característica do autor é o uso de uma gama vasta de conceitos, mas não são conceitos aleatórios. São conceitos muito bem estipulados que já foram usados outras vezes pelo autor. Estamos falando da Gentry.


     Gentry é um grupo de seres poderosos liderados pelo  Mão Vazia com a missão de espalhar seu horror pelos universos. Eles vêm de um lugar fora do Multiverso, que dizem ser o "oposto de tudo natural".
      Destruindo a  Terra 7 para ganhar a atenção do último monitor, eles insistiram com ele para trocar a vida do último sobrevivente que do universo pela sua; uma pechincha que ele aceitou. Ele enviou esse sobrevivente, o Trovejante, a bordo da nave do Superman da Terra 23 para obter ajuda do resto dos universos e então poder voltar para resgata-lo. O que foi um mau negócio, uma vez que Nix Uotan e seu companheiro Stubbs foram corrompidos pela Gentry.

     Em uma entrevista posterior ao lançamento da Multiversidade, Morrison explica o conceito dos integrantes dessa seita para a história fazer mais sentido àqueles que não a entenderam, "Cada integrante é um arquétipo de vilão levado ao limite". Intellectron é a inteligência levada ao limite do mal; Dama Inclemente representa o uso da sensualidade para obter o que for preciso; Demogorgunn é a orda de capangas que não medem esforços para cumprir os objetivos lhe dados, capangas sem cérebro que apenas recebem ordens; Lorde Quebrado é a loucura elevada ao limite, esse ultimo tem seu conceito visual inspirado no Asilo Arkham, uma vez que quando pensamos em loucura no universo DC a nossa mente é ligeiramente transportada à ele.
Ele também fala sobre a mensagem que queria passar com a Saga Multiversidade, "Cuidado com o que você deixa entrar na sua cabeça". Ele alega que hoje em dia as pessoas se preocupam tanto com seus corpos, com os produtos tóxicos que entram ou deixam de entrar e a geração saúde que esqueceram de vigiar o mais importante, as nossas mentes. Em um mundo onde tudo é muito protegido, pessoas vivem em casas com várias trancas nas portas, colocando objetos em cofres e suas informações seguras atrás de senhas e controles antivirais... Na era da internet onde ninguém precisa ser perito em nada para dar um diagnóstico, eles permitem praticamente que qualquer coisa entre em suas cabeças, muitas vezes o excesso de informação que consumimos sem cuidado pode gerar problemas muitos psicológicos muito maiores, então independente de pessoa que você é apenas tome cuidado com o que você deixa entrar na sua mente. E nós estamos vendo alguns dos efeitos que isso esta causando nas pessoas. De certa forma esse excesso de informações é demais para as pessoas processarem, o que resultou em uma espécie de doença contemporânea, como a falta de empatia que as pessoas possuem hoje em dia ou a depressão que está sendo causada em jovens.

É um questionamento válido se pensarmos quão fácil foi pra um autor escocês fazer um personagem tomar conta da cabeça de milhões de pessoas em uma saga pragmática usando a simples curiosidade do leitor.
Grant Morrison gosta de englobar em suas histórias, coisas que ele tem visto no mundo em torno dele. Você consegue filtrar as informações que recebe? Como você comprova a veridicidade dos fatos que obtém? O que está acontecendo aí dentro?
A Gentry é a representação de todas essas coisas que nós simplesmente aceitamos. Para ele, o resultado disso é uma espécie de alma cansada, um cinismo, uma doença que permeia a cultura. As pessoas parecem todas estarem fartas de elas mesmas e estão apenas esperando para serem destruídas umas pelas outras, alega Grant Morrison em uma entrevista.
É interessante ver como Morrison resgata conceitos e personagem que se perderam entre os universos da DC, por exemplo, vemos como o Rei da resistência desse mundo, um personagem há muito esquecido, que poucos leitores lembram...


   Se você viu nossa análise do Guidebook, Part 1, Part 2 e Part 3, então você sabe o que é a Terra Prime e os prejuízos que seus habitantes, em especial um, já causaram. Agora vamos conhecer outro habitante da Terra Prime, e convenhamos que pela experiencia que temos com seus conterrâneos essa terra é um pouco podrinha. Ultraa, assim como o Superboy Prime, veio desta terra.    Acontece que Ultraa percebeu que aquela terra não estava preparada para um ser super poderoso, claro que ele descobriu isso da pior forma, então decidiu deixar a nossa Terra. 
   Multiversidade é uma saga interessante, no minimo. Ao mesmo tempo que cada revista conta sua própria história e a finaliza, por assim dizer. Temos uma noção de que as coisas estão ligeiramente interligadas. A trama central envolve todos os universos e uma pequena parte de cada um se mostra ciente dessa descoberta.
  Mesmo as edições não tendo ligação alguma umas com as outras, no primeiro e ultimo titulo podemos ver a história se alinhando.

Nota:

Fuck yeah!
Awesome!
Nice.
OK.
Tem que benzer.

E por isso a nota de Ultra Comics é...



AWESOME!

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